"Cada dia a natureza produz o suficiente para nossa carência. Se cada um tomasse o que lhe fosse necesário, não havia pobreza no mundo e ninguém morreria de fome." A natureza dá a cada época e estação algumas belezas peculiares; e da manhã até a noite, como do berço ao túmulo, nada mais é que um sucessão de mudanças tão gentis e suaves que quase não conseguimos perceber os seus progressos.

segunda-feira, 29 de agosto de 2011

Moradores que serão desalojados dizem ter 'esperança' em Belo Monte


Por exigência do Ibama, obra da usina terá de remover 4 mil famílias.
Usina hidrelétrica no Pará será a segunda maior do país, depois de Itaipu.



Deusolene Santos da Silva ganha R$ 400 mensais e mora de aluguel em área de Altamira de onde famílias serão retiradas por conta da obra da usina (Foto: Mariana Oliveira / G1)Deusolene Santos da Silva ganha R$ 400 mensais e
mora de aluguel em área de Altamira de onde famílias
serão retiradas por conta da obra da usina.
Do rendimento de R$ 400 que Deusolene Santos da Silva ganha mensalmente "batendo açaí" (extraindo a polpa da fruta), R$ 120 vão para o aluguel de uma casa em área de palafita na cidade de Altamira e o restante vai para alimentar os três filhos, com idades entre 9 e 16 anos.
Aos 33 anos, ela diz que não tem Bolsa Família porque "é muita humilhação ficar pedindo" e diz ter opinião formada sobre a usina hidrelétrica de Belo Monte, que será construída na região.
"A gente tem esperança de que essa obra vai ajudar. Eles falam na televisão que a gente que vai perder a casa por causa da obra tem direitos. Mas a gente é deixada de lado. Já começaram a obra e ninguém vem aqui dizer o que vai ser da gente", diz Deusolene, que mora em uma região da qual ao menos 4 mil famílias serão removidas, segundo os estudos de impacto ambiental.
  Esteve em Altamira, cidade-sede da obra da usina, nos dias 26, 27 e 28 de julho e publica até domingo (28) uma série de reportagens sobre a construção da Usina Hidrelétrica de Belo Monte. O acompanhou equipe do Jornal Nacional na cidade. Veja no vídeo ao lado a última reportagem do JN sobre a usina, exibida na noite desta sexta (26).
A obra de Belo Monte é a maior em andamento no Brasil. A usina será a segunda do país em capacidade de geração de energia, atrás apenas da binacional Itaipu. O governo diz que Belo Monte é essencial para suprir a demanda energética do país em razão do crescimento econômico.
Mas entidades e movimentos sociais afirmam que os impactos socioambientais são prejudiciais para o Brasil. As reportagens anteriores da série do  abordaram odesmatamento em razão da obra, a opinião da comunidade indígena que será atingida e acriação de postos de trabalho da região da usina.
Uma das exigências do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) para a liberação da obra é o reassentamento das pessoas que moram em áreas de palafitas.
Trata-se de um local que já alaga naturalmente na época das cheias. Por isso, as casas são construídas sobre pedaços de madeira que elevam o nível do imóvel para que não seja atingido pela água.
Embora a obra da usina já tenha começado, as famílias que moram nesses locais ainda não sabem para onde serão levadas. Ainda assim, apoiam a obra e crêem em desenvolvimento para a região
De acordo com os estudos de impacto ambiental feitos pelo governo federal há cinco anos, cerca de 4 mil famílias moram nas palafitas. Para o Fórum Regional de Desenvolvimento Econômico e Socioambiental da Transamazônica e Xingu (Fort Xingu), são 6,5 mil famílias.
A Norte Energia, empreendedora da obra da usina e que precisa cumprir as determinações do Ibama, diz que começou neste mês de agosto o cadastramento para atualizar o número de famílias que serão removidas.
A empresa afirma que a população será chamada para dialogar e que serão apresentadas possibilidades de reassentamento ou indenização. O processo de realocação será concluído em três anos, conforme a Norte Energia.
 Luiz Fernando Rufato, diretor de construção da Norte Energia, disse que as palafitas são um "problema crônico" e histórico da região, mas que a empresa negociava terrenos para cumprir a determinação.
Ainda de acordo com a empresa, essa famílias "vivem há anos em situação insalubre" e elas "receberão novas casas em áreas completamente urbanizadas, com água, esgoto, drenagem de águas pluviais, luz e toda a infraestrutura necessária, incluindo escolas, postos de saúde e segurança pública".
Deusolene Santos da Silva, que ainda não sabe se, por morar de aluguel, vai ser beneficiada – os estudos de impacto ambiental dizem que os inquilinos também terão direitos – só espera que a obra possa proporcionar uma vida melhor para o flho Douglas, de 16 anos, que abandonou os estudos na 5ª série do Ensino Fundamental para ajudar a mãe com as despesas de casa.
Douglas, de 16 anos, é morador da região de palafitas e quer voltar a estudar para tentar emprego na obra (Foto: Mariana Oliveira / G1)Douglas, de 16 anos, é morador da região de
palafitas e quer voltar a estudar para tentar
emprego na obra.
"Quero voltar a estudar. Parei para ajudar minha mãe, mas agora estou sentindo falta. Com fé em Deus eu vou voltar a estudar e posso até tentar um emprego na obra", conta o jovem Douglas, que faz bicos como auxiliar de pedreiro.
Para o empresário Vilmar Soares, que coordena o Fórum Regional de Desenvolvimento Econômico e Socioambiental da Transamazônica e Xingu (Fort Xingu), a questão das palafitas precisa ser resolvida.
"Falta mais transparência e informação para a sociedade sobre o valor dos referidos investimentos e também transparência na contratação da empresas para a realizações destas obras", afirma Vilmar.
Indenizações
O areeiro Afonso da Silva – que tira areia do Rio Xingu para abastecer a construção civil da região – e a mulher dele, a dona de casa Dejanira, moram em área de palafitas e estão preocupados com a indenização a ser paga pelo imóvel da família, em que moram com os sete filhos, que têm entre 5 e 18 anos.
"O comentário é que eles vão pagar, mas queremos saber como será a indenização, quanto vão pagar. Eu estou ansioso para saber o que vai acontecer comigo e tenho expectativa de que seja coisa boa", diz Afonso da Silva.
Afonso e Dejaniraestão preocupados sobre como será a indenização pelo imóvel da família, em que moram com os sete filhos, que têm entre 5 e 18 anos (Foto: Mariana Oliveira / G1)Afonso e Dejanira estão preocupados sobre como
será a indenização pelo imóvel da família, em que
moram com os sete filhos, que têm entre 5 e 18
anos 
A preocupação de Afonso é o que vai acontecer na cidade depois da obra. "Vai vir muita gente de fora que vai ficar aqui quando acabar a obra. Isso preocupa."
Raimundo Monteiro Santos Filho, de 27 anos, diz que entre os moradores da área de palafitas há o temor de que as famílias não sejam indenizadas.
"Dizem que em Tucuruí (usina do Pará na cidade de mesmo nome) tem gente que até hoje espera indenização. Eu tenho esperança que melhore as coisas para a gente. Mas desde que eu me entendo por gente ouço falar dessa barragem e até agora nada", diz o jovem que trabalha como motorista.
De acordo com os estudos de impacto ambiental, cerca de 4 mil famílias moram em palafitas. Empresa que constroi usina começou neste mês recontagem das famílias (Foto: Mariana Oliveira / G1)De acordo com os estudos de impacto ambiental, cerca de 4 mil famílias moram em palafitas. Empresa que constroi usina começou neste mês recontagem das famílias.

"Eu estou com medo. Gastei tudo que tinha para fazer essa casa e agora dizem que vai alagar. Passou uma pessoa fazendo pesquisa, falaram que iam marcar uma reunião, mas não falaram mais nada. Uns dizem que vão dar dinheiro, outros que vão dar casa. Se me derem uma casa parecida, tudo bem. Ou o dinheiro não vai dar para comprar outra casa igual", afirma Caio, ao revelar sua preocupação.
O servidor público Caio Dirlei Silva Brasil, de 30 anos, construiu uma casa há dois anos em uma área que será alagada em Altamira por conta da usina.

Obra
A hidrelétrica ocupará parte da área de cinco municípios: Altamira, Anapu, Brasil Novo, Senador José Porfírio e Vitória do Xingu. Altamira é a mais desenvolvida dessas cidades e tem a maior população, quase 100 mil habitantes, segundo o IBGE. Os demais municípios têm entre 10 mil e 20 mil habitantes.
Belo Monte custará pelo menos R$ 25 bilhões, segundo a Norte Energia. Há estimativas de que o custo chegue a R$ 30 bilhões. Trata-se de uma das maiores obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), uma das principais bandeiras do governo federal.
Apesar de ter capacidade para gerar 11,2 mil MW de energia, Belo Monte não deve operar com essa potência. Segundo o governo, a potência máxima só pode ser obtida em tempo de cheia. Na seca, a geração pode ficar abaixo de mil MW. A energia média assegurada é de 4,5 mil MW. Para críticos da obra, o custo-benefício não compensa. O governo contesta e afirma que a energia a ser gerada é fundamental para o país.
"O nosso país é um país que está crescendo. (...) E necessita aproximadamente de 7 mil MW por ano nos próximos dez anos para permitir esse crescimento econômico e o desenvolvimento do nosso país", disse Altino Ventura, diretor de Planejamento Energético do Ministério do Meio Ambiente.

Países desenvolvidos devem emitir menos gases, diz ministro


Antonio Patriota participou de encontro que discute mudanças climáticas.
Representantes da China, Índia e África do Sul também estavam no evento.


O ministro das Relações Exteriores, Antonio Aguiar Patriota, disse nesta sexta-feira (26) que os países desenvolvidos têm que ter metas mais ambiciosas em relação as reduções de gases do efeito estufa na atmosfera. Ele participou da VIII Reunião Ministerial de Coordenação entre Brasil, África do Sul, Índia e China (Basic). “Consideramos que os países que têm economias mais desenvolvidas já fizeram grandes emissões de gases de efeito estufa durante sua industrialização”, disse.
Ministros pouco antes do começo da reunião (Foto: Pedro Triginelli/G1)Ministros pouco antes do começo da reunião.
A ministra do Meio Ambiente, Izabella Teixeira, explicou que este evento serve para tomar as decisões necessárias para o Encontro de Durban. “Dialogar, dialogar e dialogar. Temos que ver onde estão as dificuldades e as divergências para procurarmos bons resultados para Durban”, falou. A 17ª Conferência das Partes da UNFCCC (Cop-17), que será de 28 de novembro a 9 de dezembro de 2011 na África do Sul, temo o objetivo de discutir temas e metas sobre o Protocolo de Kioto.
A ministra da África do Sul durante a reunião (Foto: Pedro Triginelli/G1)A ministra da África do Sul durante a reunião.
O evento desta sexta-feira contou com a presença de representantes dos outros três países. A ministra das Relações Internacionais e Cooperação da África do Sul e presidente do próximo COP-17, Maite Nkoana-Mashabane, disse que vai precisar da ajuda dos outros países do Basic para que o encontro não seja um fracasso. “A África do Sul tem recursos limitados. Devemos recorrer aos irmãos. Trabalhando todos juntos vamos vencer”, falou.
O representante da China, vice-presidente da Comissão Nacional de Desenvolvimento e Reforma do país, Xié Zhenhua, explicou que é preciso trabalhar em parceria e aprofundar o diálogo para o desenvolvimento das idéias do grupo. Já o vice-ministro para o Meio Ambiente e Florestas da Índia, J.M.Mauskar, disse que o Brasil tem um papel crucial nas negociações e que o Basic é mais que um grupo, eles são uma plataforma que unem os países.
Com relação à Conferência das Nações Unidas sobre o Desenvolvimento Sustentável, o Rio+20, o ministro Patriota disse que os países do Basic podem ter um papel construtivo no evento. “Vamos aqui tentar avançar em uma agenda para o evento. Vamos discutir o modelo sustentável para os próximos 20 anos”, disse. O Rio+20 será em maio e junho de 2012 e tem o objetivo de discutir a inclusão social, a preservação do meio ambiente e o crescimento econômico.
O Basic vai até este sábado (27) no Museu do Inhotim, em Brumadinho, na Região Metropolitana de Belo Horizonte.

Furacão Irene pode superar Katrina em intensidade, diz cientista


Fenômeno climático pode chegar a Nova York com intensidade 5.
Mas seu poder destrutivo deve ser menor que o da tempestade de 2005.



A população de Nova York aguarda a chegada do furacão Irene, que pode alcançar a cidade neste final de semana e ser classificado como o mais intenso da história das medições do Centro Nacional de Furacões, ligado ao Serviço Climático dos Estados Unidos.
Segundo o instituto, o Irene alcançou nesta sexta-feira (26) o nível 3 na escala Saffir-Simpson, com ventos a uma velocidade de 170 km/h, e já possui a mesma categoria do Katrina - o furacão que devastou Nova Orleans em 2005, com 1.700 mortos.
Na madrugada deste sábado, o Irene alcança a região onde está situada a cidade de Nova York possivelmente como uma tempestade de velocidade média de 250 km/h, e ser categorizado como de nível 5, o máximo na escala.
“O fenômeno está entrando em águas quentes, devido ao verão no Hemisfério Norte. Isto pode alimentar o furacão, que nesta madrugada (de sexta para sábado) pode alcançar a categoria mais alta, entretanto, com poder menos destrutivo que o Katrina”, disse Luiz Cavalcanti, meteorologista do Instituto Nacional de Meteorologia.
De acordo com Chris Vaccaro, do Serviço Nacional do Clima dos Estados Unidos, o último fenômeno climático deste tipo a atingir a região da Carolina do Norte e Nova York foi o Glória, em 1985, com classificação 3.
Foi o 22º furacão mais forte da história do país e 3º mais forte a atingir a Costa Leste entre 1900 e 2010. O maior furacão da história do país foi o Gavelston, no Texas, em 1900, que gerou 8 mil mortos. As informações são da Administração Nacional de Oceanos e Atmosfera (NOAA).
Período estimado em anos para furacões na costa dos EUA. (Foto: NOAA Technical Memorandum NWS NHC-6)Período estimado em anos para furacões na costa dos EUA. Na região de Nova York, a média de incidência de tais fenômenos climáticos é entre 15 e 20 anos.
Mudanças climáticas
A incidência de furacões com maior intensidade na região do Atlântico Norte pode confirmar as previsões relacionadas às mudanças climáticas do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC), das Nações Unidas.
“Existe a projeção de aumento da temperatura dos oceanos na região do Atlântico Norte. Este ambiente geraria energia necessária para a formação de furacões com maior intensidade por conta da mudança do clima”, afirma Lincoln Alves, pesquisador do Centro de Ciência do Sistema Terrestre, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). “Mas acredito que a velocidade do Irene poderá diminuir no decorrer das horas”, disse Alves.
Apesar da possibilidade de não haver grandes danos, o Serviço de Segurança Nacional dos Estados Unidos decretou emergência máxima, chegando a cancelar eventos importantes como a homenagem a Martin Luther King Jr., que aconteceria no próximo domingo (28). Eventos esportivos também foram cancelados.
"Não é um alarde exagerado, mas sim uma maneira mais rígida de proteção. A evacuação às vezes é necessária, porque a velocidade de ventos a 170 km/h pode afetar a vida humana", afirmou Cavalcanti, do Inmet.

Cobra de seis metros e de 120 quilos é encontrada por fazendeiro em MT


Cobra pesa mais de 120 quilos e foi capturada pelo Ibama.
Foram necessários oito homens para carregar o animal até a gaiola.


Foram necessários oito homens para carregar o animal até a gaiola. (Foto: Roteiro Notícia/Célio Ribeiro)Foram necessários oito homens para carregar o animal até a gaiola.
Uma cobra sucuri de seis metros foi capturada em uma fazenda localizada próxima ao município de Guarantã do Norte, a 721 quilômetros de Cuiabá. O proprietário contou que o animal pesa 120 quilos e já estava na fazenda há alguns dias se alimentando, inclusive, de outros bichos como novilha e galinhas.
O dono da fazenda acionou o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) do município, para capturar a cobra após alguns animais terem sido devorados. De acordo com o Ibama, a primeira tentativa de captura foi feita na quarta-feira (24), porém, pelo tamanho e peso do animal não foi possível conseguir dominá-lo.
Ainda conforme a diretoria da instituição foram necessários oito homens para a busca do animal, que se escondia em um córrego e nas pastagens. Após a captura, a cobra foi colocada em uma gaiola e passou por avaliação de biólogos. O Ibama confirmou também que o animal foi solto nesta sexta-feira (26) na Serra do Cachimbo, região Norte de Mato Grosso.
 Ibama confirmou também que o animal foi solto nesta sexta-feira (26) na Serra do Cachimbo, região Norte de Mato Grosso. (Foto: Roteiro Notícia/Célio Ribeiro)Ibama confirmou que o animal foi solto nesta sexta-feira (26) na Serra do Cachimbo, região Norte de Mato Grosso.

Ninhada de crocodilos raros é encontrada no Laos


Vinte ovos de crocodilos siameses foram levados para zoológico e filhotes já nasceram.


Crocodilos 1 (Foto: BBC)Vinte ovos de crocodilo foram encontrados no país
do sudoeste asiático.
Vinte ovos de um dos crocodilos mais raros do mundo foram encontrados no Laos. Os ovos dos crocodilos siameses foram encontrados em um lago no sul do país, flutuando em um amontoado de junco. A ninhada foi levada para um zoológico onde ficou protegida.
Há cerca de uma semana os crocodilos começaram a sair dos ovos e, depois de lavados e alimentados, estão crescendo no abrigo especialmente construído para eles.
Bountome Channalath, o tratador do zoológico, conta que, quando os crocodilos saíram dos ovos ele ficou muito animado. "Estou muito orgulhoso por participar do nascimento dos crocodilos", disse.
Nas últimas décadas, a caça e a diminuição de suas áreas de habitat fez com que os crocodilos siameses se transformassem em uma espécie muito ameaçada.
Especialistas acreditam que existam apenas 300 da espécie no mundo. Como eles apresentam uma natureza passiva, estes crocodilos são presas fáceis de caçadores.
Os zoólogos dizem que estes crocodilos serão libertados quando forem capazes de se alimentar e defender sozinhos, talvez dentro de 18 meses.

Emprego em região de Belo Monte cresce 150% neste ano, diz governo


Empresa responsável por obra da hidrelétrica fez 40% das contratações.
Usina no Rio Xingu, no Pará, será a segunda maior do país.


Carlos Augusto Aguiar Rocha, de 29 anos, ficou seis meses desempregado antes de conseguir, em julho, um emprego de motorista na obra de Belo Monte com salário em carteira de R$ 1,4 mil (Foto: Mariana Oliveira / G1)Carlos Augusto Aguiar Rocha, de 29 anos, ficou
seis meses desempregado antes de conseguir,
em julho, um emprego de motorista na obra de
Belo Monte com salário em carteira de R$ 1,4 mil.
A geração de emprego com carteira assinada na região da futura usina hidrelétrica de Belo Monte, no Pará, aumentou 150% nos primeiros sete meses deste ano na comparação com o mesmo período do ano passado, de acordo com informações da unidade de Altamira (PA) do  Sistema Nacional de Emprego (Sine) , espécie de agência pública de emprego do Ministério do Trabalho.
Entre janeiro e julho deste ano, foram contratados por meio do Sine de Altamira 1.252 trabalhadores, contra 493 do mesmo período de 2010.
A obra de Belo Monte é a maior em andamento no Brasil. A usina será a segunda do país em capacidade de geração de energia, atrás apenas da binacional Itaipu. O governo diz que Belo Monte é essencial para suprir a demanda energética do país em razão do crescimento econômico.
Mas entidades e movimentos sociais afirmam que os impactos socioambientais são prejudiciais para o Brasil. 
Trabalhadores
A sede do Sine em Altamira, principal cidade da região, atende também aos municípios de Anapu, Brasil Novo, Senador José Porfírio e Vitória do Xingu, que têm entre 10 mil e 20 mil habitantes cada e também serão impactadas pela obra. Vitória do Xingu, por exemplo, terá terras alagadas pelo reservatório da hidrelétrica.
Dos empregados neste ano, cerca de 40% trabalham desde maio para o Consórcio Construtor Belo Monte (CCBM), empresa contratada pela Norte Energia para executar a obra. A CCBM é formada por Andrade Gutierrez, Camargo Corrêa e Norberto Odebrecht, além de algumas outras empresas menores.
Dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) do Ministério do Trabalho e Emprego sobre a cidade de Altamira corroboram as informações do Sine (na região, somente os dados de Altamira são contabilizados porque o governo só controla as informações de emprego nas cidades com mais de 30 mil habitantes).
De acordo com o Caged, entre janeiro e julho de 2011, a geração de vagas subiu quase 20% sendo que, na área de construção civil, o percentual de empregados com carteira assinada subiu 270%.
De acordo com a coordenadora do Sine em Altamira, Elcirene Silva de Sousa, a alta na geração de vagas não tem outra explicação senão a usina de Belo Monte.
Local onde estão sendo construídos acampamentos para abrigar trabalhadores que vão construir a usina (Foto: Mariana Oliveira / G1)Local onde estão sendo construídos acampamentos para abrigar trabalhadores da usina.
"Além da obra, as colocações são em novas empresas que estão chegando a Altamira e também em terceirizadas que prestam serviços na obra em alimentação, venda de acessórios, concessionárias, construção civil", afirmou.
Segundo ela, desde que a licença de instalação foi aprovada (o que permitiu o início da obra), aumentaram em Altamira os hotéis, restaurantes, serviços imobiliários. Outro motivo, afirmou, é a pavimentação da Transamazônica (pleito antigo dos moradores locais, mas que só se concretizou por conta da usina).
O motorista Carlos Augusto Aguiar Rocha, 29 anos, de Vitória do Xingu, estava desempregado havia seis meses e trabalha desde junho na infraestrutura para construção da hidrelétrica. Ele é um dos 552 que foram contratados pela CCBM até o fim de julho. Com salário de R$ 1,4 mil, Rocha, que tem dois filhos – um de 2 e outro de 6 anos – diz que a maioria das pessoas em Altamira é a favor da obra por conta do progresso.
Oslei Nunes de Souza conquistou o primeiro emprego com carteira assinada aos 40 anos para trabalhar em serviços gerais na obra. Vai ganhar R$ 1.200. (Foto: Mariana Oliveira / G1)Oslei Nunes de Souza conquistou o primeiro
emprego com carteira assinada aos 40 anos para
trabalhar em serviços gerais na obra. Vai ganhar
R$ 1.200.
"Nasci, cresci em Altamira e tenho orgulho de participar da obra. Acho que, além de trazer emprego, essa obra vai melhorar a cidade para os meus filhos, já está melhorando. Acho que vamos ter colégios melhores. Vai ser bom para todo mundo", diz.
Antes construtora de poços artesianos autônoma, Oslei Nunes de Souza conquistou o primeiro emprego com carteira assinada aos 40 anos para trabalhar em serviços gerais na obra. Antes, ganhava R$ 500 por mês, sem direitos, e agora tem salário em carteira de R$ 1,2 mil.
"A vida vai melhorar muito. Quem fala mal da obra, acredito que não esteja vendo as coisas como são de verdade, o desenvolvimento que vai trazer. Eu, particularmente, quero realizar meus sonhos, ter minha moto, reformar a minha casa, melhorar de vida", diz Oslei.
Zenilda Gomes da Silva, de 45 anos, sempre foi cabeleireira, mas conseguiu emprego de auxiliar de cozinha com salário de R$ 630 e diz que, assim, conseguirá melhorar bem o orçamento. "Posso continuar fazendo cabelo nas horas de folga. A coisa melhorou muito. Aqui, tinha gente passando necessidade. Agora, tem gente conseguindo emprego."
Migração
Dos contratados pelo CCBM, segundo o Sine de Altamira, cerca de 75% são moradores da região de Altamira que estão em cargos que exigem menor qualificação. Os demais já trabalhavam nas empresas que fazem parte do consórcio construtor e acabaram recontratadas pela CCBM para a obra da usina.
Um exemplo é o engenheiro de produção Severino Marques Machado, de 63 anos, que trabalhava para a Odebrecht e agora está atuando na construção de Belo Monte.
"Trabalhei em Angola, em obras da Odebrecht, mas é a primeira vez em hidrelétricas. Me sinto bastante orgulhoso desse início. Vim pelo desafio. Na minha idade, o dinheiro não é mais tão importante."
O engenheiro de produção Severino Marques Machado, de 63 anos, que trabalhava para a Odebrecht em Angola e foi contratado pelo Consórcio Construtor Belo Monte para trabalhar na usina de Belo Monte (Foto: Mariana Oliveira / G1)O engenheiro de produção Severino Marques Machado, de 63 anos, que trabalhava para a Odebrecht em Angola e foi contratado pelo Consórcio Construtor Belo Monte para trabalhar na usina de Belo Monte.
Apesar de os migrantes contratados até agora serem basicamente de indicados pelas construtoras do consórcio, conforme o Sine, o progresso já atrai pessoas de outros estados para a região.
Salem da Silva Quaresma, de 44 anos, era recém-chegado na cidade. Ele vinha do trabalho na obra de outra hidrelétrica, a de Jirau, no Rio Madeira, em Rondônia, em busca de trabalho.
"Aqui está muito falado. Em Jirau, todo mundo diz que quer vir para Belo Monte. Porque sempre no começo de obra a coisa é boa, pagam bem, a comida é boa."
Quaresma diz que em Jirau "era tudo direitinho" e o alojamento, "um luxo". Mesmo assim, afirmou estar em busca sempre de salários melhores. "A vida é essa, sempre atrás de onde está o dinheiro."
Para o empresário Vilmar Soares, que coordena o Fórum Regional de Desenvolvimento Econômico e Socioambiental da Transamazônica e Xingu (Fort Xingu), a migração não é uma preocupação para a região.
"A gente acha que não vai ter tanta migração porque o país está com várias obras grandes", afirmou.
A previsão é de 5 mil a 6 mil pessoas empregadas no empreendimento até o fim do ano. Em 2013, pico da obra, a construção da usina deve contar com 20 mil trabalhadores. A expectativa da Norte Energia, empresa responsável pela usina, é que a região atraia 50 mil pessoas.
Para Elcirene Silva de Souza, do Sine, a tendência de crescimento na oferta de trabalho preocupa porque não há gente suficiente em Altamira para preencher as vagas, o que, consequentemente, obrigará a migração.
"Hoje, temos vagas de carpinteiro, pedreiro, topógrafo, motorista, operador de máquinas. E temos dificuldade porque muitas vezes não conseguimos gente com experiência comprovada em carteira. A mão de obra de Altamira e região não foi preparada para o grande empreendimento. O consórcio construtor está capacitando trabalhadores para a obra, mas sabemos que não é suficiente para a demanda."
Obra
A hidrelétrica ocupará parte da área de cinco municípios: Altamira, Anapu, Brasil Novo, Senador José Porfírio e Vitória do Xingu. Altamira é a mais desenvolvida dessas cidades e tem a maior população, quase 100 mil habitantes, segundo o IBGE. Os demais municípios têm entre 10 mil e 20 mil habitantes.
Belo Monte custará pelo menos R$ 25 bilhões, segundo a Norte Energia. Há estimativas de que o custo chegue a R$ 30 bilhões. Trata-se de uma das maiores obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), uma das principais bandeiras do governo federal.
Apesar de ter capacidade para gerar 11,2 mil MW de energia, Belo Monte não deve operar com essa potência. Segundo o governo, a potência máxima só pode ser obtida em tempo de cheia. Na seca, a geração pode ficar abaixo de mil MW. A energia média assegurada é de 4,5 mil MW. Para críticos da obra, o custo-benefício não compensa. O governo contesta e afirma que a energia a ser gerada é fundamental para o país.
"O nosso país é um país que está crescendo. (...) E necessita aproximadamente de 7 mil MW por ano nos próximos dez anos para permitir esse crescimento econômico e o desenvolvimento do nosso país", disse Altino Ventura, diretor de Planejamento Energético do Ministério do Meio Ambiente.