"Cada dia a natureza produz o suficiente para nossa carência. Se cada um tomasse o que lhe fosse necesário, não havia pobreza no mundo e ninguém morreria de fome." A natureza dá a cada época e estação algumas belezas peculiares; e da manhã até a noite, como do berço ao túmulo, nada mais é que um sucessão de mudanças tão gentis e suaves que quase não conseguimos perceber os seus progressos.

segunda-feira, 29 de agosto de 2011

Emprego em região de Belo Monte cresce 150% neste ano, diz governo


Empresa responsável por obra da hidrelétrica fez 40% das contratações.
Usina no Rio Xingu, no Pará, será a segunda maior do país.


Carlos Augusto Aguiar Rocha, de 29 anos, ficou seis meses desempregado antes de conseguir, em julho, um emprego de motorista na obra de Belo Monte com salário em carteira de R$ 1,4 mil (Foto: Mariana Oliveira / G1)Carlos Augusto Aguiar Rocha, de 29 anos, ficou
seis meses desempregado antes de conseguir,
em julho, um emprego de motorista na obra de
Belo Monte com salário em carteira de R$ 1,4 mil.
A geração de emprego com carteira assinada na região da futura usina hidrelétrica de Belo Monte, no Pará, aumentou 150% nos primeiros sete meses deste ano na comparação com o mesmo período do ano passado, de acordo com informações da unidade de Altamira (PA) do  Sistema Nacional de Emprego (Sine) , espécie de agência pública de emprego do Ministério do Trabalho.
Entre janeiro e julho deste ano, foram contratados por meio do Sine de Altamira 1.252 trabalhadores, contra 493 do mesmo período de 2010.
A obra de Belo Monte é a maior em andamento no Brasil. A usina será a segunda do país em capacidade de geração de energia, atrás apenas da binacional Itaipu. O governo diz que Belo Monte é essencial para suprir a demanda energética do país em razão do crescimento econômico.
Mas entidades e movimentos sociais afirmam que os impactos socioambientais são prejudiciais para o Brasil. 
Trabalhadores
A sede do Sine em Altamira, principal cidade da região, atende também aos municípios de Anapu, Brasil Novo, Senador José Porfírio e Vitória do Xingu, que têm entre 10 mil e 20 mil habitantes cada e também serão impactadas pela obra. Vitória do Xingu, por exemplo, terá terras alagadas pelo reservatório da hidrelétrica.
Dos empregados neste ano, cerca de 40% trabalham desde maio para o Consórcio Construtor Belo Monte (CCBM), empresa contratada pela Norte Energia para executar a obra. A CCBM é formada por Andrade Gutierrez, Camargo Corrêa e Norberto Odebrecht, além de algumas outras empresas menores.
Dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) do Ministério do Trabalho e Emprego sobre a cidade de Altamira corroboram as informações do Sine (na região, somente os dados de Altamira são contabilizados porque o governo só controla as informações de emprego nas cidades com mais de 30 mil habitantes).
De acordo com o Caged, entre janeiro e julho de 2011, a geração de vagas subiu quase 20% sendo que, na área de construção civil, o percentual de empregados com carteira assinada subiu 270%.
De acordo com a coordenadora do Sine em Altamira, Elcirene Silva de Sousa, a alta na geração de vagas não tem outra explicação senão a usina de Belo Monte.
Local onde estão sendo construídos acampamentos para abrigar trabalhadores que vão construir a usina (Foto: Mariana Oliveira / G1)Local onde estão sendo construídos acampamentos para abrigar trabalhadores da usina.
"Além da obra, as colocações são em novas empresas que estão chegando a Altamira e também em terceirizadas que prestam serviços na obra em alimentação, venda de acessórios, concessionárias, construção civil", afirmou.
Segundo ela, desde que a licença de instalação foi aprovada (o que permitiu o início da obra), aumentaram em Altamira os hotéis, restaurantes, serviços imobiliários. Outro motivo, afirmou, é a pavimentação da Transamazônica (pleito antigo dos moradores locais, mas que só se concretizou por conta da usina).
O motorista Carlos Augusto Aguiar Rocha, 29 anos, de Vitória do Xingu, estava desempregado havia seis meses e trabalha desde junho na infraestrutura para construção da hidrelétrica. Ele é um dos 552 que foram contratados pela CCBM até o fim de julho. Com salário de R$ 1,4 mil, Rocha, que tem dois filhos – um de 2 e outro de 6 anos – diz que a maioria das pessoas em Altamira é a favor da obra por conta do progresso.
Oslei Nunes de Souza conquistou o primeiro emprego com carteira assinada aos 40 anos para trabalhar em serviços gerais na obra. Vai ganhar R$ 1.200. (Foto: Mariana Oliveira / G1)Oslei Nunes de Souza conquistou o primeiro
emprego com carteira assinada aos 40 anos para
trabalhar em serviços gerais na obra. Vai ganhar
R$ 1.200.
"Nasci, cresci em Altamira e tenho orgulho de participar da obra. Acho que, além de trazer emprego, essa obra vai melhorar a cidade para os meus filhos, já está melhorando. Acho que vamos ter colégios melhores. Vai ser bom para todo mundo", diz.
Antes construtora de poços artesianos autônoma, Oslei Nunes de Souza conquistou o primeiro emprego com carteira assinada aos 40 anos para trabalhar em serviços gerais na obra. Antes, ganhava R$ 500 por mês, sem direitos, e agora tem salário em carteira de R$ 1,2 mil.
"A vida vai melhorar muito. Quem fala mal da obra, acredito que não esteja vendo as coisas como são de verdade, o desenvolvimento que vai trazer. Eu, particularmente, quero realizar meus sonhos, ter minha moto, reformar a minha casa, melhorar de vida", diz Oslei.
Zenilda Gomes da Silva, de 45 anos, sempre foi cabeleireira, mas conseguiu emprego de auxiliar de cozinha com salário de R$ 630 e diz que, assim, conseguirá melhorar bem o orçamento. "Posso continuar fazendo cabelo nas horas de folga. A coisa melhorou muito. Aqui, tinha gente passando necessidade. Agora, tem gente conseguindo emprego."
Migração
Dos contratados pelo CCBM, segundo o Sine de Altamira, cerca de 75% são moradores da região de Altamira que estão em cargos que exigem menor qualificação. Os demais já trabalhavam nas empresas que fazem parte do consórcio construtor e acabaram recontratadas pela CCBM para a obra da usina.
Um exemplo é o engenheiro de produção Severino Marques Machado, de 63 anos, que trabalhava para a Odebrecht e agora está atuando na construção de Belo Monte.
"Trabalhei em Angola, em obras da Odebrecht, mas é a primeira vez em hidrelétricas. Me sinto bastante orgulhoso desse início. Vim pelo desafio. Na minha idade, o dinheiro não é mais tão importante."
O engenheiro de produção Severino Marques Machado, de 63 anos, que trabalhava para a Odebrecht em Angola e foi contratado pelo Consórcio Construtor Belo Monte para trabalhar na usina de Belo Monte (Foto: Mariana Oliveira / G1)O engenheiro de produção Severino Marques Machado, de 63 anos, que trabalhava para a Odebrecht em Angola e foi contratado pelo Consórcio Construtor Belo Monte para trabalhar na usina de Belo Monte.
Apesar de os migrantes contratados até agora serem basicamente de indicados pelas construtoras do consórcio, conforme o Sine, o progresso já atrai pessoas de outros estados para a região.
Salem da Silva Quaresma, de 44 anos, era recém-chegado na cidade. Ele vinha do trabalho na obra de outra hidrelétrica, a de Jirau, no Rio Madeira, em Rondônia, em busca de trabalho.
"Aqui está muito falado. Em Jirau, todo mundo diz que quer vir para Belo Monte. Porque sempre no começo de obra a coisa é boa, pagam bem, a comida é boa."
Quaresma diz que em Jirau "era tudo direitinho" e o alojamento, "um luxo". Mesmo assim, afirmou estar em busca sempre de salários melhores. "A vida é essa, sempre atrás de onde está o dinheiro."
Para o empresário Vilmar Soares, que coordena o Fórum Regional de Desenvolvimento Econômico e Socioambiental da Transamazônica e Xingu (Fort Xingu), a migração não é uma preocupação para a região.
"A gente acha que não vai ter tanta migração porque o país está com várias obras grandes", afirmou.
A previsão é de 5 mil a 6 mil pessoas empregadas no empreendimento até o fim do ano. Em 2013, pico da obra, a construção da usina deve contar com 20 mil trabalhadores. A expectativa da Norte Energia, empresa responsável pela usina, é que a região atraia 50 mil pessoas.
Para Elcirene Silva de Souza, do Sine, a tendência de crescimento na oferta de trabalho preocupa porque não há gente suficiente em Altamira para preencher as vagas, o que, consequentemente, obrigará a migração.
"Hoje, temos vagas de carpinteiro, pedreiro, topógrafo, motorista, operador de máquinas. E temos dificuldade porque muitas vezes não conseguimos gente com experiência comprovada em carteira. A mão de obra de Altamira e região não foi preparada para o grande empreendimento. O consórcio construtor está capacitando trabalhadores para a obra, mas sabemos que não é suficiente para a demanda."
Obra
A hidrelétrica ocupará parte da área de cinco municípios: Altamira, Anapu, Brasil Novo, Senador José Porfírio e Vitória do Xingu. Altamira é a mais desenvolvida dessas cidades e tem a maior população, quase 100 mil habitantes, segundo o IBGE. Os demais municípios têm entre 10 mil e 20 mil habitantes.
Belo Monte custará pelo menos R$ 25 bilhões, segundo a Norte Energia. Há estimativas de que o custo chegue a R$ 30 bilhões. Trata-se de uma das maiores obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), uma das principais bandeiras do governo federal.
Apesar de ter capacidade para gerar 11,2 mil MW de energia, Belo Monte não deve operar com essa potência. Segundo o governo, a potência máxima só pode ser obtida em tempo de cheia. Na seca, a geração pode ficar abaixo de mil MW. A energia média assegurada é de 4,5 mil MW. Para críticos da obra, o custo-benefício não compensa. O governo contesta e afirma que a energia a ser gerada é fundamental para o país.
"O nosso país é um país que está crescendo. (...) E necessita aproximadamente de 7 mil MW por ano nos próximos dez anos para permitir esse crescimento econômico e o desenvolvimento do nosso país", disse Altino Ventura, diretor de Planejamento Energético do Ministério do Meio Ambiente.

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